Semana Santa para quem?
Significado para os seguidores de Cristo.
Assim pensa um Democrata Cristão
“Por que procurais aquele que vive entre os mortos? Ele não está aqui; ressuscitou”. Lc 24,5-6
Essa passagem apresenta a mensagem da vitória humana sobre a morte. Revela o papel de Jesus Cristo na terra, demonstra a esperança da ressurreição. Trata-se de um fato surpreendente que provocou muita expectativa nas religiões daquela época, sendo para muitos compreendido como uma nova religião, por isso em termos técnicos, a expressão “cristianismo” tornou-se uma religião que teve origem na experiência monoteísta do judaísmo que esperava um Salvador só seu. Um fato que ocorrido na região do Oriente Médio, mas que alcança aproximadamente 30% da população do mundo contemporâneo, concentrando sua maior incidência no ocidente.
Esse período retrata, historicamente, a vida, obra, morte e ressurreição de Jesus Cristo, cujo martírio é lembrado nestes dias de reclusão para muitos fiéis, conhecido no calendário de boa parte do mundo como Semana Santa. A palavra santa / santo, significa separada/o. Portanto, estaremos diante de uma semana separada para refletir sobre nossa história, sobre nós mesmo, uma parada para a revisão da consciência, do pensar sobre si mesmo tendo como ponto de partida aquelas palavras geradoras, gestadas há quase 2000 anos, que orientavam a convivência e solidariedade entre os povos, como exemplo, aquelas mais conhecida como sermão da montanha que se encontra em Matheus capítulos 5 a 7.
É neste sentido, stricto senso, que o as ideias de Cristo se distinguem da religiosidade comum, conhecida como cristianismo, movimento que se esgaçou no curso da história, talvez para se tornar a maior do mundo renuncia à sua essência revelada por acontecimentos milagrosos e ações humanitárias, sociais e políticas, que colocou em xeque o poder dominante do seu tempo, ao exaltar a paz e a vida em um império que cultuava a guerra e a morte.
Originalmente a Páscoa, que tem como significado passagem rápida, experiencia que ocorreu com o povo judaico quando da passagem da escravidão para a liberdade. Foram libertos por Deus da opressão e da escravidão no Egito sob a liderança de Moisés um grande líder, profeta e legislador do povo hebreu. Por ocasião dessas comemorações, já em outro contexto, observado pela a recordação da crucificação, morte e ressurreição de Jesus, em hebraico Yeshua, que se tornaria o Cristo como consequência do seu sofrimento e morte, termo cunhado pelos gregos dado ao significado da palavra “Χριστός – Christós”, aquele que foi ungido, ou o escolhido para o sacrifício, neste caso em favor da humanidade.
Porém, um dos primeiros sinais da ressurreição de Jesus Cristo é o túmulo vazio. Sem o corpo daquele que há três dias fora julgado, condenado, humilhado, crucificado e morto, realidade que trouxe dor aos apóstolos e discípulos como relata os evangelhos. Foram vistos abatidos, receosos, descrentes inclusive quando do testemunho das mulheres acerca do que viram e ouviram à beira do túmulo: “Porque buscai entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou. ” Lucas 24. 5-6.
Aquela situação tem sido reproduzida ao longo da história da humanidade. Vamos tomar como exemplo as pessoas que estão a viver um dia de alegria, o domingo de Páscoa é um dia doce que chega a ser, para muitos, antecipado pelo desejo de uma outra celebração, aquela marcada pelo barulho de uma casa cheia, sobretudo com a festança das crianças ao abrir os embrulhos de chocolate. Mas, e amanhã? Será que amanhã continuaremos alegres? Como na maioria das festas humanas o dia seguinte é bem diferente, assume-se, voltemos a realidade, a vida não é só de festa.
De fato, a páscoa também tem se tornado uma data cheia de interpretações e outras coisas, inclusive festa, mas vazia em seu sentido. Sem a celebração da vida como uma consciência coletiva para vencer a cultura da violência e da morte não há Páscoa, pois em seu lugar o que se ver é uma sociedade sem esperança de ressurreição que cava o próprio túmulo com mágoas, cobiças, ódios, frustrações, mentiras, traições e medos destruindo, enterrando sonhos pessoais e leva junto famílias inteiras sepultando assim a dignidade humana.
Percebemos assim a distância entre o que foi dito, vivenciado e registrado do Homem de Nazaré, considerando tudo que foi escrito após sua estada entre nós, tornando-se uma personalidade gigante conhecida como destacada figura humana “Jesus, a alegria dos homens”. Isso ocorre dado ao desconhecimento do ocorrido, assim, procura-se ocupar a data com outras motivações, inclusive para religiões que negam a essência do fato em si, lembrado e cultuado Cristo com um poderoso operador de milagres, mais um dos grandes profetas ou apenas aquele que pensava e agia “fora da caixinha”, no entanto o que ele fez foi entregar-se a morte por suas ideias “estranhas”.
Essa conclusão é possível, quando contemplada a partir de uma das falas do Cordeiro que se deu pela humanidade. Quando em uma outra aula magistral, diante dos gênios da religião dominante do seu tempo, apresenta o resultado da avaliação daquela turma: “Errais não conhecendo o que de mim está escrito”, como se encontra em Matheus 22.29. Naquela ocasião entrega o gabarito da prova para a vida. Ali ele revela outro poder, uma outra força desprovida de armas, aquela que não mata, mas se dá ao sacrifício de retirar os espinhos dos caminhos das criaturas e os colocar sobre si, para viver até a morte e agora, ressuscitar cada dia com a esperança de viver sempre e para sempre.
Essa força que ele ensinou tem nome, é amor. Ela nasce no coração, um processo de transformação interior que desenvolve a linda e vencedora conduta humana “e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (I João 5.4). Toda força tem um sentido, a do amor está no amar. Ensinemos, portanto, desde a meninice, a adorável fase da infância, amar se aprende. Façamos isso, sobretudo no caminho das crianças, valorizando a vida adornando trajetórias com flores da vida bela que se renova a cada manhã, exalando o perfume da misericórdia e generosidade divinas em cada um dos nossos atos. Essa aula prática é possível por meio de pessoas que são capazes, modificadas que foram pelo impacto que a Páscoa tem promovido no mundo, de ir além do chocolate e de outros símbolos, de modo que não embraceis as crianças, como pede o Professor de Nazaré em Matheus 19.14.
Assim, a importância das comemorações da Semana Santa, em meio a triste, lamentável e repugnante cenas de guerras e outras violências, deve significar dias separados para a reflexão da humanidade, um tempo sublime de grande relevância. Não vamos celebrar uma crucificação, não vamos fazer apologia ao castigo infligido pelos impérios da força humana e seus métodos cruéis de empobrecimento e morte das criaturas, pelo contrário, não nos conformamos com a barbárie do presente século, acreditamos na força da ressureição para a vida plena, abundante que emerge dos sepulcros, inclusive daqueles “caiados”, os que julgam estar vivos, e carecem do renascimento para uma vida de respeito mútuo numa relação de comunhão com o Criador e suas criaturas, ocupar-se em fazer do e no mundo, com seu pensar e agir, um lugar de convivência pacífica construída com bondade, tolerância, justiça e solidariedade fazendo valer ao que muitos cantam, com o “Cristo ressurreto é céu aqui”.
Assim viva todo Democrata Cristão.